Resumo do livro Os Melhores Contos (Rubem Braga)

Além de ter sido o maior cronista moderno do Brasil, Rubem Braga foi o único autor brasileiro a obter projeção unicamente com suas crônicas. Famoso desde a década de 30, quando a militância socialista o opôs ao Estado Novo de Getúlio Vargas, Braga cultivou a crônica até o final de seus dias.

Na opinião da crítica Luciana Stegagno Picchio, elas são documentos valiosos para a reconstituição de “uma civilização tropical perdida”: o Brasil dos anos 40 a 80. Na origem da sua crônica moderna está o jornalismo, atividade à qual o escritor sempre se dedicou e que o fez viajar pelo Brasil e exterior como repórter e comentarista político.

Grande observador, Braga foi um mestre em revelar o aspecto significativo e permanente de eventos cotidianos comuns. Assim, um quadro sensível dos dramas de nossa época é o que se vê nesta coletânea de 39 crônicas, de diversos momentos do escritor.
Elas também podem ser chamadas de “contos” porque, na literatura brasileira marcada pelo modernismo, a crônica é quase sempre um ponto de partida para uma curta criação ficcional, que evolui livremente para o conto e a prosa poética.

Braga pertence à segunda geração do modernismo brasileiro. Foi a geração que consolidou as conquistas dos modernistas de 1922. O estilo de suas crônicas, que se aproxima da linguagem oral, lembra a poesia “simples e despojada” de Manuel Bandeira.
Muito variadas, tanto em relação à técnica narrativa quanto descritiva, suas crônicas adquirem unidade no fato de serem consideradas crônicas poéticas. Nelas, o “eu” que narra e descreve costuma refletir liricamente, de um modo subjetivo e emotivo, sobre a sua experiência, a passagem do tempo e dos seres, os momentos mais densos que viveu.

O próprio narrador costuma ser a personagem principal e lembra, por vezes, o “contador de causos” do interior, o narrador oral que inspirou algumas das criações mais originais de nosso modernismo e pós-modernismo, como os romances Macunaíma e Grande Sertão: Veredas.

Um modo de classificar as crônicas de Os Melhores Contos de Rubem Braga, seleção de Davi Arrigucci, é observar seus principais temas, que são simples e pouco numerosos: a lembrança da infância em Cachoeiro de Itapemirim (”Praga de Menino”); a sensualidade e o amor em idades e situações diferentes (”Encontro”, “Os Amantes”); a dor pelo próximo e a militância socialista (”Os Perseguidos”); a fuga da cidade e a busca da natureza (”O Mato”); o fantástico e o maravilhoso (”Marinheiro na Rua”, “O Espanhol que Morreu”).

Atenção particular merecem as crônicas que tratam do momento especial de uma revelação, uma epifania, no cotidiano da agitada metrópole moderna (”Visão”). Esses temas surgem isolados ou associados, a exemplo do tom que as crônicas adotam, também variado ou mesclado, podendo ir, num mesmo texto, da seriedade engajada à ironia leve e muito bem-humorada.

Estilo: Rubem Braga pertence à segunda geração do Modernismo, a que foi responsável pela sedimentação das conquistas da primeira fase (1922-1930) desse movimento.

Gênero: “crônica poética”, prosa narrativa e descritiva permeada de lirismo
Personagens: no conjunto das crônicas, há grande variedade de personagens. A principal delas, porém, é quase sempre o próprio narrador.